quinta-feira, 19 de maio de 2016

"Olha, Marília, as flautas dos pastores."

Olha, Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?

Vê como ali beijando-se os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores.

Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha pára,
Ora nos ares sussurrando gira.

Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira,
Mais tristeza que a noite me causara.


Breve Análise do Soneto: Esse é um dos poemas líricos mais conhecidos de Bucage e é importante destacar também os aspectos da estética Árcade que ele apresenta, transmitindo a ideia da arte como uma cópia da natureza refletida através da tradição clássica.
          Nele é possível notar a valorização da natureza, pois Marília, a amada, é convidada pelo eu-lírico para aproveitar a manhã e admirar alegria do campo ao som harmônico que das flautas.
          Segundo o eu-lírico, tudo de encantador que natureza transmite não tem a mesma beleza sem a sua amada, podendo entristecer mais que a morte se ela não aparecer e desfrutar junto a ele, o ambiente que narra.



terça-feira, 17 de maio de 2016

Candido Lusitano um dos grandes nomes do Arcadismo de Portugal 








Francisco José Freire

Nasceu dia 3 de janeiro de 1719 em Lisboa.
Era um frade oratoriano que inspirou o movimento estético-literário da Arcádia,há poucas coisas sobre sua vida, o que foi encontrando foram  em pequenos relatos contidos em suas obras,passou a utilizar um pseudônimo " Candido Lusitano" para escrever suas obras.
Em sua obra Arte Poética(1748)um grande marco em  Portugal, com afirmações estética neoclássica que seria conhecida mais para frente na literatura portuguesa como Arcadismo.
Suas ideologias foram fundamentadas em diversos movimentos e seus autores:Os clássicos antigos(Horácio,Aristóteles e Longino);Humanismo quinhentista(Autores Portugueses, Castelvetr e Robortello) e no Contemporâneo( Boileau,Voltaire e Pope),Na mesma vertente dos intelectuais Ludovico Antonio Muratori e Ignacio de Luzán, explorava as relações entre o entendimento e a fantasia nas elaborações em obras poéticas.Sendo influenciado pela  doutrina da visão Aristotélica que é uma arte que se encontra sempre presente o "verossímil" a verdade universal, o equilíbrio no útil e o deleitável, a natureza e o exercício.

Contrários aos pensamentos Luís Antonio Verney(Verdadeiro métodos de estudos),defendia que é na proporção,na ordem e na unidade que consiste a beleza poética e o que alimenta va a alma é a imaginação e a fantasia.
Considerado por Ludovico Antonio Muratori  a primeira definição canônica de bom gosto ma literatura portuguesa,que negava a liberdade de criatividade que o barroco defendia.

Morreu 5 de julho de 1773 em mafra.

Obras :


  • O Secretário Portuguez Cómmodos à Instrucção da Mocidade Confirmado com Selectos Exemplos de Bons Autores, Lisboa, 1745;
  • Vieira defendido, Lisboa, 1746;
  • Arte Poética ou Regras da Verdadeira Poesia, Lisboa, 1748;
  • Ilustração Crítica…, Lisboa, 1751 
  • Arte Poética de Quinto Horácio Flacco, Lisboa, 1758;
  • Dicionário Poético para uso dos que principiam…, Lisboa, 1765;

segunda-feira, 16 de maio de 2016

"Oh retrato da morte, oh noite amiga"

Oh retrato da morte, oh noite amiga
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!

Pois manda Amor, que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Dorme a cruel, que a delirar me obriga:
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto

E vós, oh cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.


Breve Análise do Soneto: O soneto de Bocage tem como elementos neoclássicos a forma (soneto), a presença da mitologia : Amor (Cupido, filho de Marte e de Vênus) e o vocábulo escuridade. Nas duas quadras que o poeta dirige-se ao "retrato da morte", "noite amiga"; a caracterização da noite e ao pedido pra que, uma vez mais, ouça seus lamentos. Nos tercetos, podemos notar que o poeta suplica aos mochos, que com sua "medonha sociedade", ajudem a fartar seu coração de horrores.

Arcadismo x Barroco e uma mulher na história

      Para deixarmos Bocage descansando um pouco, já que ultimamente temos postado muitos poemas escritos por ele, nesse post discutiremos um pouco sobre o Arcadismo e outros autores que participaram dessa escola literária.
      Como já dito, o Arcadismo entrou na contra-mão do Barroco, dando importância a outras questões Universais que não fossem apenas a Religião. O Barraco girava em torno da religiosidade, envolvendo Deus e santos em quase todas as suas obras, e preparando todos para um encontro final.
      Um homem muito importante para o Barroco foi o Padre António Vieira, que escreveu obras de profecia, cartas e sermões.
Assim como ele foi importante para o Barroco, o nosso querido Bocage foi para o Arcadismo, e podemos distinguir um período do outro e ver claramente suas diferenças, se analisarmos as obras desses grandes homens.
      De um lado temos Bocage o desbocado, que escrevia poemas extremamente eróticos e longe de serem religiosos, enquanto o Padre se detinha em espalhar a palavra de Deus e trechos da Bíblia.
Podemos dizer que o Arcadismo entrou como uma revolução; uma espécia de libertamento das algemas colocadas pelo Barroco.
      O Arcadismo cansou-se de tanta exaltação religiosa; de tanto exagero em suas obras tanto artísticas quanto escritas, e passou a dar mais importância à vida terrena do que à do Paraíso. O Arcadismo se concentrava-se em retratar a vida no campo, chamado de bucolismo, e o pastorismo, atividades muito comuns naquela época. Pessoas comuns eram tidas como o objeto de "estudo" e interpretação do Arcadismo, não apenas a nobreza.
      A natureza ganhou o mérito que merecia, sendo retratada em belas obras de arte e sendo citada em poemas maravilhosos. O Arcadismo deixou de lado tudo que envolvia o uso excessivo de figuras de linguagem, como no Barroco.
   
O nome dessa obra é "The Servant Justified" de Nicolas Lancret e representa com simplicidade a vida de duas pessoas comuns em uma situação cotidiana. No caso um pastor e uma camponesa, traço típico do Arcadismo.






 Os principais autores dessa época foram:
António Dinis da Cruz e Silva;
- Pedro António Correia Garção;
- Marquesa de Alorna;
Francisco José Freire;
Domingos dos Reis Quita ;
Nicolau Tolentino de Almeida e 
Filinto Elísio.
      A seguir, leia o poema de Marquesa de Alorna, uma mulher de extrema importância para o Arcadismo, e que demonstra tão bem com este poema, todas as características de Arcadismo, exaltando a natureza e tudo o que há de belo ao redor:
      
Como Está Sereno o Céu
Como está sereno o céu, 
como sobe mansamente 
a Lua resplandecente 
e esclarece este jardim! 

Os ventos adormeceram; 
das frescas águas do rio 
interrompe o murmúrio 
de longe o som de um clarim. 

Acordam minhas ideias, 
que abrangem a Natureza; 
e esta nocturna beleza 
vem meu estro incendiar. 

Mas, se à lira lanço a mão, 
apagadas esperanças 
me apontam cruéis lembranças, 
e choro em vez de cantar. 
Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' 

Soneto Do Prazer Maior

Amar dentro do peito uma donzela
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura
Falar-lhe, conseguindo alta ventura
Depois da meia-noite na janela:

Fazê-la vir abaixo, e com cautela
Sentir abrir a porta, que murmura
Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertá-la nos braços casta e bela:

Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos
E a boca, com prazer o mais jucundo
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos

Vê-la rendida enfim a Amor fecundo
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos
É este o maior gosto que há no mundo


Manuel Maria Barbosa du Bocage



domingo, 15 de maio de 2016

NASCEMOS PARA AMAR

Nascemos para amar; a Humanidade 
Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura. 
Tu és doce atractivo, ó Formosura, 
Que encanta, que seduz, que persuade. 

Enleia-se por gosto a liberdade; 
E depois que a paixão na alma se apura, 
Alguns então lhe chamam desventura, 
Chamam-lhe alguns então felicidade. 

Qual se abisma nas lôbregas tristezas, 
Qual em suaves júbilos discorre, 
Com esperanças mil na ideia acesas. 

Amor ou desfalece, ou pára, ou corre: 
E, segundo as diversas naturezas, 
Um porfia, este esquece, aquele morre. 

Bocage, in 'Sonetos' 
Manuel Maria Barbosa Du Bocage


sábado, 14 de maio de 2016

Desejo Amante

Elmano, de teus mimos anelante,
Elmano em te admirar, meu bem, não erra;
Incomparáveis dons tua alma encerra,
Ornam mil perfeições o teu semblante:

Granjeias sem vontade a cada instante
Claros triunfos na amorosa guerra:
Tesouro que do Céu vieste à Terra,
Não precisas dos olhos de um amante.

Oh!, se eu pudesse, Amor, oh!, se eu pudesse
Cumprir meu gosto! Se em altar sublime
Os incensos de Jove a Lília desse!

Folgara o coração quanto se oprime;
E a Razão, que os excessos aborrece,
Notando a causa, revelara o crime.
 
                           Bocage